Jó 6-7: Desconfie Do Seu Desespero
- Pastor Alex Daher

- há 16 minutos
- 22 min de leitura
Série em Jó: Sofrimento Soberano
07 de Dezembro de 2025 – IBJM
É muito ruim ficar desesperado. É uma sensação horrível. Uma pessoa definiu para mim recentemente desespero como você caindo de repente em um poço escuro que nunca termina.
O desespero é essa uma mistura de pavor, angústia e uma falta de esperança diante da incerteza com o que vai acontecer. Ou, o que é ainda pior: o desespero me diz que eu posso ter certeza de que as coisas nunca vão mudar.
É horrível essa sensação de estar caindo em um poço que nunca tem fim. A sensação de ficar desesperado. E assim que Jó está:
6:[26] Por acaso vocês pensam em reprovar as minhas palavras, ditas por um desesperado ao vento?
Cristãos também precisam lidar com desespero. Jó é um crente real, um homem de Deus, um adorador verdadeiro, mas Jó, como todos nós, tem seus dias difíceis. Às vezes, suas semanas difíceis. Às vezes, seus meses e anos difíceis.
Como nós podemos usar a sabedoria de Deus para lidar com o desespero em nosso interior e com os desesperados ao nosso redor?
Existem algumas coisas que, se você fizer, só vão piorar a situação e atrapalhar.
Existem algumas coisas que, se você fizer, podem realmente ajudar.
A resposta de Jó nessa passagem nos ajuda a lidar com o desespero, nos ajuda a lidar com os desesperados e, no meio de tudo isso—ela nos ajuda a lidar com Deus.
A resposta de Jó ao seu amigo Elifaz dura 2 capítulos, mas Jó não responde só a Elifaz. No capítulo 6, ele fala com Elifaz e seus amigos. Mas no capítulo 7, Jó para de falar com seus amigos e pela primeira vez no livro, Jó fala com o seu Deus.
Essa passagem está dividida em duas partes:
• Capítulo 6: Jó responde a Elifaz.
• Capítulo 7: Jó responde a Deus.
Jó 6:[1] Então Jó respondeu:
Mas que tipo de resposta Jó está dando? Veja qual é a primeira coisa (ou o primeiro som) que sai da boca de Jó:
Jó 6:[1] Então Jó respondeu: [2] “Ah!”
“Ah!”. “Ah!” é o suspiro de dor da alma. O desabafo de um desesperado. As palavras no papel não tem som nem tom. Mas esse “Ah!” descreve bem como Jó está.
[2] “Ah! Se a minha queixa, de fato, pudesse ser pesada...
Esses dois capítulos são uma queixa. Esse é o tipo de resposta de Jó nessa passagem: uma queixa. Jó tem uma longa reclamação a fazer. Ele está muito frustrado. Ele está muito decepcionado com Elifaz. E Jó está muito decepcionado com Deus também.
Eu já falei demais. Vamos deixa Jó falar. Quando alguém está sofrendo, nós podemos amar essa pessoa ouvindo com atenção o que ela tem a dizer.
1. QUEIXA CONTRA OS AMIGOS (JÓ 6)
O capítulo 6 é a queixa contra os amigos dele, mas veja o que Jó faz: antes de falar diretamente com Elifaz, primeiro Jó fala com Jó. O trecho do versículo 2 ao 13 é um desabafo de Jó em voz alta. Jó começa falando com ele mesmo.
Se você já ficou perto de um alguém desesperado ou se você parar para pensar em seus momentos de desespero, você já presenciou ou experimentou essa cena.
Nós falamos coisas como: “Não! Não! Não! Eu não acredito! Por quê!? Por quê!? Por quê!?” Como quem você está falando, quando você está falando assim? Você está falando com você mesmo.
Eu resumiria esse desabafo de Jó em 4 palavras:
1.1 “EU NÃO AGUENTO MAIS” (6:2-13)
Jó não aguenta mais porque o sofrimento está insuportável.
[2] “Ah! Se a minha queixa, de fato, pudesse ser pesada,
e contra ela, numa balança, se pusesse a minha miséria,
[3] esta, na verdade, pesaria mais que a areia dos mares.
Jó está falando com ele mesmo, mas esse desabafo está relacionado ao que Elifaz falou antes. Vamos voltar no tempo:
No capítulo 1 e 2, Jó perdeu tudo: todos os bens, todos os filhos e toda a saúde. E Jó respondeu confiando no Senhor. Jó e seus amigos ficam 1 semana sentados no chão chorando sem falar uma palavra.
Mas depois dessa semana de silêncio, o capítulo 3 começa com Jó falando. E Jó está mal. Muito mal. Ele fala coisas como: “Morra o dia em que eu nasci!”.
Jó reconhece que as palavras dele no capítulo 3 não foram ponderadas. Veja o final do versículo 3:
Jó 6:[3] (...) Por isso é que as minhas palavras foram precipitadas.
Ele reconhece. Mas Elifaz parece que tem um coração duro como uma pedra. Insensível.
Elifaz lidou com sofrimento de Jó como se ele tivesse em uma aula de ciências, analisando um sapo morto no laboratório: “Aqui está o coração. Aqui está o pulmão. Aqui o estômago”.
Elifaz agiu com frieza. Emocionalmente distante. Analisando o sofrimento de Jó como se fosse um exercício acadêmico sobre a existência do mal, abrindo o coração de Jó e analisando como em uma sala de aula.
Elifaz não deu espaço para Jó lamentar, espaço para ele ficar confuso diante de tanta dor. Espaço para ele usar palavras que não são as melhores porque o espírito dele não está dos melhores.
Por isso que Jó começa assim!
“Ah! Se vocês pegassem toda a areia dos mares e colocassem de um lado da balança, e pegassem o peso da minha dor e colocasse do outro lado, o meu sofrimento seria ainda mais pesado”.
“Se vocês fizessem isso, vocês veriam que eu tenho toda a razão em reclamar!”
Jó continua o desabafo dele. E para descrever como ele se sente, ele usa Deus. Veja como Jó enxerga a Deus:
[4] Porque as flechas do Todo-Poderoso estão cravadas em mim,
e o meu espírito sorve o veneno delas;
os terrores de Deus se armam contra mim.
Jó vê Deus como um inimigo. Alguém que está escondido com um arco e flecha na mão. Como se Deus estivesse atrás de uma árvore, ele coloca veneno na ponta da flecha, mira em Jó e solta e a flecha crava em Jó. E Ele pega mais uma flecha na aljava. Mira. Solta. E acerta. Várias vezes. Jó fala de “flechas”, no plural.
Flechas que não acertaram o corpo de Jó e pararam. As flechas penetraram mais fundo. As flechas acertaram o espírito dele. A dor foi pior.
Jó está certo em ver Deus como Todo-Poderoso (soberano). Mas Jó está errado em ver Deus como um inimigo. Nós vamos voltar para esse ponto daqui há pouco. Mas a questão aqui é: para Jó, Deus está contra ele.
Esse é um pensamento que surge quando você está sofrendo, ansioso, deprimido, desesperado. Você pensa (como Jó): “Eu sei que Deus é Todo-Poderoso (porque ele é Deus!). Então ele de alguma maneira está por trás da minha dor. Se ele está deixando essas flechas com veneno entrarem na minha alma, é porque ele está contra mim”.
Para quem está pensando desse maneira, veja se o final do versículo 4 não faz sentido:
[4] (...) os terrores de Deus se armam contra mim.
Como se Deus tivesse um exército poderoso armado e cercando Jó para atacá-lo. Faz sentido ele usar a palavra “terror”: os “terrores de Deus”. Jó está com medo de Deus. Isso explica boa parte do desespero de Jó.
Pare para pensar: se Deus é soberano (Todo-Poderoso), mas ele está contra mim, eu tenho todas as razões do mundo para ficar com medo. Um Ser que tem poder para fazer o que ele quiser comigo (e não tem nada que eu possa fazer para impedir) está contra mim?
Esse é um pensamento desesperador. Jó está com medo de Deus. Medo do que Deus pode fazer.
MEDO (NÃO TEMOR!) DO SENHOR
Sinceramente, você já sentiu medo de Deus? Eu não estou falando do temor do Senhor. O temor do Senhor é algo bom. O temor do Senhor é o princípio do saber (Provérbios 1:7). O temor do Senhor é esse senso de quer agradar a Deus, ser controlado por Deus, obedecer a Deus, confiar em Deus. Nós queremos mais e mais temor do Senhor.
Jó teme a Deus. Foi assim que o livro de Jó começou:
Jó 1:1—Havia um homem na terra de Uz cujo nome era Jó. Este homem era íntegro e reto, temia a Deus e se desviava do mal.
Jó teme a Deus. Mas agora Jó está também com medo de Deus. Meu irmão, minha irmã, você também não sente medo de Deus às vezes? Medo do que ele poder fazer? Ele é Todo-Poderoso. Soberano. Ele pode usar o poder e a autoridade dele para tirar coisas (e pessoas) da nossa vida que nós amamos. Se ele quiser, ele tira.
Sinceramente, você já não teve medo do que Deus pode fazer?
Eu comecei essa série em Jó contando o caso de um cristão chamado Tim Challies. O filho dele Nicolas, de 20 anos—um jovem maravilhoso—estava fazendo seminário, ia se casar em 6 meses com uma jovem preciosa, mas um dia, de repente, ele caiu no chão morto. Ninguém sabe o que aconteceu. Ele simplesmente morreu.
Tim Challies disse que ele ficou com medo de Deus. Ele é um crente piedoso, mas depois que ele viu Deus levando o filho que ele tanto amava, ele teve que lidar com os mesmos pensamentos que Jó teve que lidar. Tim Challies disse o seguinte:
Eu temo a Deus, mas nesses dias, eu também me vejo... com medo de Deus... com medo das maneiras em que ele pode exercer o poder dele. Afinal, apenas há algum tempo atrás, Deus exerceu a soberania dele levando meu filho.
Minha vida de tranquilidade... foi interrompida por uma perda tão grande que eu nunca teria me permitido sequer imaginar. Em um momento, Deus desferiu um golpe... que quase me esmagou...
Se Deus tomou a vida do meu filho amado com tanta velocidade, com tanta facilidade... o que mais ele pode tomar de mim? Quem mais ele pode tomar? E como eu vou aguentar uma perda dessas? (Challies, Seasons of Sorrows, 43-44).
Esse homem ama o Senhor. Ele crê na soberania do Senhor. Ele está se submetendo a Deus. Mas ele está sendo honesto também. Como Jó está sendo honesto.
Quando Deus exerce a soberania dele não só nos dando, mas tomando coisas e pessoas preciosas para nós, nós precisamos de muita graça dele para aguentar.
Nós vamos lidar mais com esse ponto daqui há pouco. Tenha paciência. Vamos ouvir mais Jó. Ele continua se defendendo, dizendo que ele tem razão, sim, de reclamar.
Jó faz um interrogatório para ele mesmo. Ele faz 4 perguntas seguidas e em todas elas, a resposta é “não!”.
[5] Será que o jumento selvagem zurra quando está junto à relva?
Não. Se o jumento tem comida, ele não zurra lamentando. Próxima:
[5] (...) Ou será que o boi berra junto ao seu pasto?
Não. Boi com pasto não berra de fome. Agora ele passa dos animais para as comidas:
[6] Pode-se comer sem sal o que é insípido? Não!
Ou haverá sabor na clara do ovo? Não!
A mensagem de Jó é: “Então! Eu estou zurrando, berrando, porque Deus me tirou tudo! Eu tenho razão em estar desesperado. O meu sofrimento é insuportável!”
E uma vez que ele provou que o sofrimento dele é insuportável, do versículo 8 ao 13, Jó volta a falar em morrer, como ele faz no lamento do capítulo 3:
[8] Quem dera que se cumprisse o meu pedido,
e que Deus me concedesse o que desejo!
[9] Que fosse do agrado de Deus esmagar-me,
que soltasse a sua mão e acabasse comigo!
[10] Isto ainda seria a minha consolação,
e eu saltaria de contente na minha dor, que é implacável;
porque não tenho negado as palavras do Santo.
Diferente do que Elifaz está dizendo, Jó não tem negado as palavras de Deus. Jó não está dizendo que ele não é um pecador. Mas ele está se defendendo da acusação de Elifaz de que ele está sofrendo porque ele pecou contra Deus—que ele estava negando as palavras do Santo Deus.
E como toda pessoa confusa e desesperada, Jó voltar a perguntar “por quê”?
[11] Por que esperar, se já não tenho forças?
Por que prolongar a vida, se o meu fim é certo?
“Deus, me mata logo. Eu não aguento mais”.
O desabafo de Jó em voz alta está terminado. E a esperança de Jó está terminada também.
[13] Não encontro socorro em mim mesmo; foram afastados de mim os meus recursos.
E nós chegamos na queixa de Jó aos amigos deles. Do versículo 14 até o final do capítulo 6.
Eu resumiria a queixa de Jó contra os seus amigos também em 4 palavras:
1.2 “VOCÊS SÃO UNS ENGANADORES” (6:14-30)
[14] “Ao aflito deve o amigo mostrar compaixão,
mesmo ao que abandonou o temor do Todo-Poderoso.
[15] Meus irmãos me enganaram;
Jó chama seus amigos de irmãos. Irmãos! Eles são próximos. Eles têm um relacionamento íntimo. Mas eles enganaram Jó. Vieram para consolar, mas o que ele estão fazendo não se faz. Em vez de palavras para confortar, eles estão usando as palavras para acusar.
Quando alguém distante não demonstra compaixão por você, você se sente maltratado. É ruim. Mas quando é alguém próximo que não ama você no sofrimento, é horrível. Você se sente enganado. E sua dor aumenta ainda mais.
A partir do versículo 15, Jó compara os amigos dele a uma miragem no deserto. Ele cria essa ilustração de um ribeiro tão cheio que transborda na época da chuva, mas quando vem o calor, a época em que os viajantes no deserto mais precisam de água, eles chegam perto para matar a sede, mas toda a água secou.
[17] torrente que seca quando o tempo aquece,
e que no calor desaparece do seu lugar.
[20] Ficam envergonhados por terem confiado;
quando chegam ali, ficam decepcionados.
Os viajantes confiaram que encontrariam água, mas quando chegam perto: nada. Nem uma gota. Que decepção!
Jó aplica a ilustração aos amigos:
[21] Assim também vocês não me ajudaram em nada;
Jó está olhando para os três amigos nos olhos e dizendo: “Vocês são como uma miragem no deserto. Vocês são uma decepção. Vocês são uma enganação. De longe parecem um lago. Parecia que vocês teriam água para oferecer à minha alma seca. Mas quando vocês chegam perto e abrem a boca, eu não recebo uma gota de consolo de vocês”.
Quando Jó mais precisava da compaixão, quando ele está passando pela maior aflição da vida dele, o coração dos amigos dele é duro e seco como uma pedra.
Jó não está sozinho. Ele têm os amigos em volta dele. Mas ele se sente sozinho. Ele se sente isolado. Enganado. Decepcionado.
É possível ter pessoas fisicamente perto, mas se sentir emocionalmente isolado:
• Às vezes, a culpa é nossa porque nós não nos abrimos com ninguém.
• Às vezes, a culpa é das pessoas por perto que não demonstram compaixão.
No caso de Jó, o problema estava nos amigos. Quando Jó mais teve sede do amor leal deles, quando ele chegou perto, ele viu um rio vazio como na época de seca do Sertão Nordestino. Só terra e pó e ossos secos e morte.
Os amigos não estão respondendo bem ao sofrimento de Jó. Mas Jó fica impaciente com eles também. Agora o interrogatório é com os amigos. Jó atira, de novo, 4 perguntas seguidas e, de novo, as respostas são todas “não”.
[22] Por acaso pedi que me dessem recompensa? [Não].
Ou que da riqueza de vocês me trouxessem algum presente? [Não].
[23] Será que pedi que me livrassem do poder do opressor? [Não].
Ou que me resgatassem das mãos dos tiranos? [Não].
Eu pedi alguma coisa difícil para vocês? Eu pedi para vocês comprarem meus bens de volta? Eu pedi para vocês me livrarem dos caldeus que levaram meus camelos? Eu só pedi compaixão. Consideração. Compreensão. Isso é pedir muito!?
Jó termina a interação dele com Elifaz desafiando os amigos a mostrarem o pecado que eles estão dizendo que Jó tem. O tom da conversa está esquentando.
[24] Ensinem-me, e eu me calarei;
mostrem-me em que tenho errado.
[25] Como são persuasivas as palavras retas!
Mas o que é que a repreensão de vocês repreende?
[26] Por acaso vocês pensam em reprovar as minhas palavras,
ditas por um desesperado ao vento?
[27] Até sobre um órfão vocês lançariam sortes
e seriam capazes de vender um amigo!
Jó!? Jó, agora é você está fazendo acusações pesadas: Vocês são capazes de vender um amigo e como os irmão de José fizeram com ele. Como Judas fez com Jesus. Jó está certo em rejeitar as acusações dos seus amigos. Ele está certo também em questionar a atitude dura dos amigos. O que Jó não está certo é de começar a devolver na mesma moeda.
Mas essa é uma atitude comum de quem está machucado, ferido e desesperado. Uma das respostas frequentes do nosso coração quando nós nos sentimos injustiçados é ficamos irados.
Quando você for ajudar alguém que está frustrado, provavelmente vai sobrar para você também.
Peça a Deus a porção de um primogênito—uma porção dobrada da graça da paciência, não deixe de tentar ajudar, mas não se surpreenda se uma pessoa machucada machucar você. E se você é a pessoa machucada recebendo ajuda, cuidado para não ferir justamente quem Deus enviou para curar você.
Mas o caso de Jó não é exatamente esse último. Os amigos de Jó não estão curando Jó. Jó pode não ter o melhor tom, mas ele tem razão nas críticas contra os amigos. Eles estão sendo injustos, insensíveis e errados com Jó.
No final, o clima melhora um pouco. Jó apela para eles considerarem que ele está sendo sincero:
[28] Agora, pois, tenham a bondade de olhar para mim
e vejam que não estou mentindo na cara de vocês.
[29] Por favor, mudem de parecer, e que não haja injustiça;
mudem de parecer, e a justiça da minha causa triunfará.
[30] Há iniquidade em meus lábios?
Será que a minha boca não consegue discernir coisas perniciosas?
Jó termina se defendendo da acusação de Elifaz. Jó está dizendo: “Eu não tenho pecado escondido. Vocês estão me acusando falsamente!”
APLICAÇÃO
Antes de entrar no capítulo 7: o que nós podemos aprender com um homem desesperado se queixando de como o amigo dele está tratando mal a ele? Que sabedoria o Senhor tem para nós aqui para lidarmos com o desespero e os desesperados?
Certamente nós podemos aprender muitas lições. Eu vou deixar uma:
CUIDADO COM A SUA CORREÇÃO
Busquemos sabedoria em quando corrigir as pessoas. Você não precisa ser uma peneira com buracos tão pequenos, tão pequenos, que não você deixa escapar nada de errado que as pessoas falam sem corrigir.
Especialmente quando você está lidando com alguém que não está bem.
Jó disse para seus amigos:
[26] Por acaso vocês pensam em reprovar as minhas palavras, ditas por um desesperado ao vento?
Nós precisamos ter essa categoria de um desesperado dizendo palavras ao vento. A pessoa está muito confusa, muito frustrada. Deixe as palavras dele voarem e irem embora. Você não precisa capturar cada palavra, analisar e dar o seu parecer. Deixa o vento levar as palavras embora, mesmo que elas não sejam as melhores.
Quando as pessoas estão sofrendo muito, geralmente elas estão confusas também. Elifaz deveria ter deixado Jó lamentar pelo sofrimento dele. Elifaz deveria ter dado espaço para Jó derramar sua confusão sem muito correção. Pelo menos naquele momento.
Mais um testemunho do Tim Challies, que perdeu seu filho precioso de 20 anos. Nos primeiros dias depois da morte do filho dele, estava tão difícil de suportar a dor de não ter mais o filho por perto, que ele confessou para um amigo:
“Quando eu penso no céu, eu estou pensando menos em me encontrar com Jesus e estou pensando mais em ver o Nicolas (o filho dele). Eu estou ansioso para ver meu Salvador, mas eu estou morrendo de vontade de ver meu menino. Eu devo parecer um completo pagão”.
O amigo responde de forma gentil: “Não. Você parece um pai que está de luto”.
(Challies, Seasons of Sorrows, 122).
Essa foi uma resposta de amor. Ele não deveria ter corrigido o Tim: “Você parece um pagão mesmo. Como você pode pensar desse jeito?”
O Tim sabe que Jesus é o centro do Universo e do céu e de tudo o que existe. Mas no meio de tanta dor, ele quer muito ver o filho de novo. Ele não precisa de correção. Nesse momento, ele precisa de compaixão.
Que o Senhor nos dê sabedoria para corrigir uns aos outros em amor, mas que ele nos dê sabedoria também para deixar as palavras de alguém angustiado serem levadas pelo vento e ignoradas. Pelo menos enquanto o poeira da dor não tiver baixado.
Provérbios 12:18—Palavras precipitadas são como pontas da espada [elas ferem!], mas as palavras dos sábios são remédio [elas curam!].
Jó cansou de falar com Elifaz. Ele está decepcionado com o seu amigo. Muito decepcionado. Em vez de Elifaz carregar o fardo do sofrimento junto com Jó e deixar a vida dele um pouco mais leve, Elifaz aumenta o peso com acusações falsas e conselhos ruins.
2. QUEIXA CONTRA DEUS (JÓ 7)
Capítulo 7. Agora Jó quer falar com Deus. Mas de novo, antes de falar com Deus, ele entra em um monólogo. Jó começa falando com ele mesmo, de novo. Pelo menos é isso que parece.
Às vezes é difícil de saber com quem Jó está falando. Mas é o que parece: que ele está, de novo, desabafando em voz alta.
Mais palavras de um desesperado sendo lançadas ao vento. Vamos deixa Jó falar. Quando alguém está sofrendo, nós podemos amar essa pessoa ouvindo com atenção o que ela tem a dizer.
Se vocês me permitem resumir os versículos de 1 a 6, de novo, em 4 palavras, eu diria que Jó está dizendo:
2.1 “MINHA VIDA É VAZIA” (7:1-6)
Jó 7:[1] Não é verdade que a vida do ser humano neste mundo é uma luta sem fim?
No versículo 2, ele se compara a um escravo que sonha com uma sombra para descansar, mas que tem que suportar o calor do Sol. Jó anda por essa vida como um escravo acorrentado pelo pé com uma bola de ferro de sofrimento, debaixo do calor da provação, sem uma sombra para respirar.
Nem à noite, na hora de dormir e descansar, ele consegue dormir e descansar:
[4] Ao deitar-me, pergunto: quando me levantarei?
Mas a noite é longa, e estou farto de me virar na cama, até o amanhecer.
• Você já deitou para dormir, cansado de tanto ficar preocupado durante o dia, doido para descansar, mas o sono foge de você?
• Você fica como Jó—virando de um lado para o outro na cama como uma panqueca na panela e não consegue pregar os olhos?
• Ou você demora muito para dormir e demora pouco para acordar?
Interessante que só nesses últimos dias eu ouvi de 3 pastores diferentes—homens que eu sei que andam com o Senhor—que estão com dificuldade para dormir e descansar à noite, mesmo estando exaustos. Um deles eu vi hoje de manhã no espelho.
Ler a Bíblia e orar não nos deixam completamente imunes às noites mal dormidas. Nos ajudam, é parte da batalha, mas não eliminam completamente a angústia na alma que, às vezes, seguram nossas pálpebras e não nos deixam dormir.
Jó descreveu a dor por dentro. Agora ele descreve a dor por fora:
[5] O meu corpo está vestido de vermes e de crostas terrosas;
a minha pele racha e de novo forma pus.
O reservatório de esperança de Jó secou, como a ilustração do ribeiro na época do calor que ele usou com os amigos.
[6] Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão
e se findam sem esperança.
O segundo desabafo em voz alta terminou. Finalmente, Jó vai falar com Deus:
[7] “Lembra-te, ó Deus, de que a minha vida é um sopro;
os meus olhos não tornarão a ver a felicidade.
É bom que Jó está indo a Deus para lamentar. Não é bom que ele esteja sem esperança, mas é bom se abrir e ser honesto com Deus. Deus está ouvindo. Ele sempre ouve. E na hora certa, ele responde. E da maneira certa, ele responde.
É a primeira vez que Jó fala com Deus. E não será a última. Mas Deus só irá falar com Jó no capítulo 38. Ainda tem muito chão para Jó caminhar. As discussões com os amigos estão só começando.
No capítulo 6, Jó falou com Elifaz.
No capítulo 7, Jó fala com Deus.
Eu estou resumindo o sentimento de Jó de 4 em 4 palavras.
Jó começou com o desabafo de um desesperado: “EU NÃO AGUENTO MAIS” (6:1-13).
Depois ele se queixou dos amigos: “VOCÊS SÃO UNS ENGANADORES” (6:14-30).
Depois Jó voltou a desabafar em voz alta: “MINHA VIDA É VAZIA” (7:1-6).
Agora Jó vai se queixar com Deus. Em 4 palavras:
2.2 “DEIXA-ME EM PAZ!” (7:7-21)
“Deus, me deixa em paz!”
Eu estou tirando essa frase do que o próprio Jó falou no versículo 16. Segunda parte do versículo 16:
[16] (...) Deixa-me em paz, porque os meus dias são um sopro.
Jó não está só decepcionado com Elifaz. Jó está decepcionado com Deus. Ele começa comparando a vida dele a um sopro:
[7] “Lembra-te, ó Deus, de que a minha vida é um sopro;
No versículo 9, ele compara a vida a uma NUVEM, que uma hora está no céu e na hora seguinte já desapareceu.
A mentalidade de Jó é: já que a vida é tão curta—um sopro, uma nuvem—e eu estou sofrendo tanto, então eu não vou perder tempo e vou falar tudo o que eu estou sentindo. E ele não está se sentindo bem:
[11] Por isso, não reprimirei a minha boca.
Na angústia do meu espírito, falarei;
na amargura da minha alma, eu me queixarei.
Jó não consegue ver Deus como alguém que pode ajudá-lo:
• No versículo 13 ele fala de Deus assustando a ele com pesadelos.
• No versículo 15, Jó se sente sendo torturado:
[15] Por isso, prefiro ser estrangulado;
antes a morte do que esta tortura.
Jó vê Deus como alguém que está usando uma força desproporcional para dominá-lo, como se Jó fosse um mostro do mar que Deus precisasse usar de violência para domá-lo?
[12] Será que eu sou o mar ou algum monstro marinho,
para que me ponhas sob guarda?
Jó se sente sufocado. E por isso ele volta a falar que ele não quer mais viver:
[16] Estou farto da minha vida; não quero viver para sempre.
Deixa-me em paz, porque os meus dias são um sopro.
“Senhor, me deixa! Me deixa em paz! Eu não aguento mais”.
Vocês lembram que no capítulo 6, Jó fez um interrogatório com ele mesmo. E depois ele fez um interrogatório com os amigos. Agora ele faz um interrogatório com Deus—ou melhor, contra Deus.
Veja se essa primeira pergunta de Jó lembra você de alguma outra passagem na Bíblia?
[17] “Que é o homem, para que tu lhe dês tanta importância,
para que dês a ele atenção,
[18] para que a cada manhã o visites,
e que a cada momento o ponhas à prova?
Essa passagem se parece muito com o Salmo 8, o salmo que foi o chamado à adoração do culto de hoje. Em um momento do salmo, Davi diz:
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que dele te lembres? E o filho do homem, para que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que [os anjos] e de glória e de honra o coroaste (Salmos 8:3-5).
O texto é muito parecido com Jó, mas a aplicação do texto é oposta: Davi fala “que é o homem, para que dele te lembres?” porque Deus é um tão magnífico e tão glorioso e nós somos tão pequenos e pecadores, por que o Senhor se importa conosco e nos ama e nos colocar para cuidar do mundo que ele criou? Quem somos nós para sermos tão amados por um Deus tão grande?
A aplicação de Jó é oposta: Por que o Senhor se importa em ficar me atacando e me ferindo? Quem sou eu para o Senhor gastar seu tempo para me derrubar? Me deixa em paz!
Jó vê Deus agindo como um inimigo dele. O interrogatório não terminou. Ele tem mais perguntas:
[19] Até quando não desviarás de mim o teu olhar?
Até quando não me darás tempo de engolir a minha saliva?
[20] Se pequei, que mal fiz a ti, ó Espreitador da humanidade?
Por que fizeste de mim o teu alvo,
tornando-me um peso para mim mesmo?
[21] Por que não perdoas a minha transgressão
e não tiras a minha iniquidade?
Ele conclui:
Pois agora me deitarei no pó;
e, se me procuras, já terei desaparecido.
A reclamação de Jó para Deus é: se eu fiz alguma coisa errada, então me mostra, mas tira a sua mira de mim. Jó chega a chamar Deus de “Espreitador”.
“Príncipe da Paz” é um título maravilhoso para Jesus. Mas “Espreitador da humanidade” não é um bom título para Deus. Mas é como Jó se sente. Ele se sente vigiado por Deus, mas como se Deus não tivesse olhos de amor, mas os olhos de um atirador.
Jó imagina Deus como um sniper—para modernizar a ilustração do arco e flecha. Um atirador de elite. Deus está escondido em cima de um prédio, abaixado, com a mira em Jó. O laser vermelho está no peito de Jó. Ou melhor, no espírito de Jó.
É por isso que Jó está tão desesperado, angustiado e amargurado. Ao ponto de falar para Deus:
“Senhor, me deixa em paz!
Para de olhar para mim.
Me dá um tempo para respirar”.
Na mente de Jó, Deus vê a ele como um alvo—como um inimigo a ser derrubado; alguém que Deus está pronto para mirar, atirar e abater.
DEUS E O DESESPERO
E aqui vem a lição mais importante dessa queixa de Jó: a principal questão no nosso desespero é como nós estamos enxergando quem Deus é.
Jó é crente. Jó teme a Deus. Mas o sofrimento está fazendo Jó se convencer de que existe um conflito entre ele e Deus. Mas não existe! Não existe!
Não existe conflito entre Deus e você, crente. O conflito de Deus é com Satanás, não com você, crente angustiado. E o seu conflito é com Satanás, não com Deus, crente desesperado.
Cristão, desconfie do seu desespero. Não acredite nele.
(Piper faz essa aplicação em:
O desespero mente. Ele não conta a verdade para você. O desespero é um tipo de Serpente, que entra rastejando na sua mente e quer enganar você.
O desespero diz: “Não tem jeito, você está perdido”, mas não é verdade!
O desespero diz: “Deus não vai ajudar você, você está abandonada”, mas não é verdade!
O desespero é mentiroso por natureza. Ele mente para você sobre quem Deus é e sobre quem você é para Deus.
OUÇA O REI CRUCIFICADO
Não faz muito mais sentido ouvir um Rei que escolhe morrer no seu lugar do que ouvir a serpente do desespero que só torna sua vida mais miserável? Então!
Quando o desespero diz: “Deus não se importa, é por isso que sua vida está assim”. Ou ainda pior, quando o desespero quer realmente acabar com sua esperança e diz: “Deus está contra você”, não acredite!
Ah! se Jó soubesse como Deus vê a ele! Deus disse sobre você, Jó, no capítulo 2:
“Não há ninguém como [Jó] na terra. Ele é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal” (Jó 2:3).
Ah! Crente desesperado, crente angustiado, se você soubesse como Deus vê você em Cristo. Crente desesperado, se você soubesse que Deus olha para você com o mesmo amor que ele tem pelo Filho dele!
Não existe mais nenhum conflito entre Deus e você. Deus já resolveu tudo na cruz.
Jó perguntou no final dessa passagem:
Jó 7:[21] Por que não perdoas a minha transgressão e não tiras a minha iniquidade?
A resposta de Deus para Jó (e para você, cristão) é: “Eu já perdoei você. Quando você creu no meu Filho, eu perdoei você”.
CONCLUSÃO
Quando o desespero falar para você que Deus está contra você para derrubar você, olhe para o seu Rei levantado no madeiro e fala para o seu desespero ficar quieto. Expulse a serpente do desespero do jardim do seu coração.
Deus não é um Espreitador da humanidade. Ele é o Salvador dos pecadores. Ele não veio para nos ferir. Ele veio ser ferido por nós.
Crente, rejeite as palavras do seu desespero. O seu desespero é um Elifaz. Ele acusa você dizendo que existe um conflito entre Deus e você e é por isso você está sofrendo.
Mas isso não é verdade. Não existe mais nenhum conflito entre Deus e você. Agora só existe amor. Você não precisa ficar desesperado.
Você não precisa ficar com medo de Deus. Porque além de Todo-Poderoso, Deus é também Todo-Amoroso conosco em Cristo Jesus.
Em vez de acreditar no seu desespero, não é muito melhor você acreditar em um Salvador que aceitou sofrer a agonia da morte por você, que aceitou ter os pregos cravados nas mãos por você, e que carregou o peso do seu pecado—que pesa mais do que a areia dos mares, até aquele madeiro e que disse: “Está consumado!”?
Desconfie do seu desespero. E confie no Príncipe da Paz. Deus está espreitando você, sim, mas Deus olha para você com olhos de amor, mesmo durante o sofrimento. Especialmente durante o sofrimento.
Essa é a verdade que o desespero esconde de nós, mas que cruz desabafa em voz alta.
Igreja Batista Jardim Minesota
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